Boa tarde a Todos,
Hoje fui escalado para falar algumas palavras de reflexão para todos vocês. Gostaria de contar com a atenção de todos por alguns minutos.
Primeiramente gostaria de agradecer ao condutor da igreja que me deu essa oportunidade, essa CHANCE, de poder dividir com vocês o que eu, ou melhor, o que minha família passa no dia-a-dia.
Não sei se vocês sabem, mas eu sou CANHOTO. Aqui tem algum canhoto? Vou dizer de novo, EU SOU CANHOTO.
Muitos de vocês devem estar pensando, “E daí que você é canhoto”. E é isso que é legal!!!
Isso significa que o CANHOTO não significa nada na vida de vocês. Eu simplesmente aceito e acabou. Então, isso significa que o CANHOTO está incluso no mundo dos DESTROS que são 90% da população. Perceberam o que eu quis dizer?
Hoje em dia tanto faz se a pessoa é destra ou canhota. Todos vivem em harmonia.
Mas, nem sempre foi assim... em torno de 1.665 (mais ou menos a 360 anos atrás), existiu um preconceito cultural, social e religioso contra os canhotos.
Tudo ligado a esquerda era ligado a algo ruim. Pois, diziam que a direita era o de Deus e a esquerda do Diabo. Além disso, em várias línguas a esquerda sempre teve conotação negativa como: o Mal, incorreto, maldoso, mentiroso, doente, entre outros.
Então o que acontecia com os canhotos, eles eram queimados porque os canhotos eram do mal.
E hoje convivemos uns com outros como se nada disso tivesse acontecido.
De uns tempos para cá tenho falado muito sobre inclusão em diversos lugares. Já falei sobre inclusão na Sede Missionária em Bauru, Dendotyo, e já falei sobre inclusão no Tenri Cast e já falei sobre inclusão até no Japão no Regresso das Crianças em Jiba. E agora estou tendo a CHANCE de falar sobre inclusão aqui nessa igreja.
Tomei esse assunto de INCLUSÃO como minha missão de vida para tentar facilitar a vida do meu filho como muitos antepassados devem ter feito para facilitar a minha vida de canhoto nos dias de hoje.
Deus tem falado de inclusão desde o momento da criação da humanidade.
Deus criou o desafio da inclusão a partir do momento que criou o homem e a mulher. Imaginem, são dois serem totalmente diferentes e eles precisavam se dar bem.
A partir daí Deus criou o desafio das cores das pessoas, depois criou os destros e canhotos, depois criou os deficientes físicos, cegos, surdos, down, LGBTQIA+, TDAH, Autistas e assim por diante.
Desde que tive a CHANCE de falar sobre a inclusão dos autistas para as pessoas, muita coisa mudou, as pessoas ao redor dos meus filhos mudaram de atitude e a forma de enxerga-los.
Mas, existe um outro lado que as pessoas não enxergam. Esse lado é o lado dos pais que estão com essas crianças quase não tem apoio das pessoas.
Nós pais de autistas na verdade estamos adoecidos mentalmente, fisicamente e emocionalmente. As vezes o sorriso que vocês enxergam na gente, as vezes é somente para socialmente sejamos inclusos, mas nem sempre estamos bem.
A verdade é que nós pais de autistas temos o mesmo nível de estresse de um soldado em combate na guerra.
Esse teste foi publicado por um jornalista norte americano da universidade da Califórnia que estudou várias famílias com crianças autistas e não autistas.
Pois de acordo com a pesquisa, pais que convivem com o autismo dos filhos empenham por dia duas horas a mais com cuidados do que as mães de crianças sem o transtorno, e ao longo do dia, eles também apresentaram duas vezes mais probabilidade de estarem cansadas e três vezes mais chances de passarem por um evento estressante.
Isso porque todos os pais de autistas precisam estar em:
- Alerta para interpretar o filho sem que haja necessariamente uma emissão verbal;
- Alerta para evitar possíveis crises ou lidar com elas;
- Alerta para uma seletividade alimentar e necessidade nutricional do filho;
- Alerta para compreender alguma dor ou incômodo, já que eles têm dificuldade de comunicar;
- Alerta para o resultado das terapias, além da logística;
- Alerta para o treino de toalete, para ver se vai conseguir desfraldar;
- Alerta para bombardeios sensoriais em lugares públicos;
- Alerta para as regras sociais, como não tirar a roupa em público ou pegar a batata da mesa ao lado quando estão com fome.
- E principalmente, alerta à FALTA de noção de perigo como sair correndo pela rua, pois existe um alto índice de mortalidade de crianças autistas por atropelamento, afogamentos e acidentes domésticos.
Então, tudo isso acaba nos desgastando mentalmente, fisicamente e emocionalmente. E, como todos sabem, todo esse estresse, mal humor, nervoso que passamos reflete em nossas crianças.
Se estamos nervosos, eles também ficam nervosos. Se estamos tristes eles também ficam tristes.
Dessa maneira os meus filhos entram em crise e não sabemos o que pode acontecer.
E por causa de uma dessas crises, perdemos a escola do mais velho.
Era uma manhã como outra na qual levantamos, preparamos os nossos filhos para escola e nos preparamos para sair. Mas, tinha um fator que culminou de o dia ficar bem ruim. O atraso no horário para realizar toda essa tarefa.
Naquele dia estávamos todos num nervosismo só. (Contar a história da escola)
Desde então as pessoas da escola começaram a ter medo do meu filho a ponto que não quererem chegar perto dele. Os olhares eram frios. E por mais que dê a impressão que o meu filho pareça que não perceba isso, ele sente isso na pele.
Então não tínhamos mais clima para ficar naquela escola, para nós pais também era muito doloroso ver tudo isso. Não tínhamos mais vontade de ir para aquela escola.
Então resolvemos tirá-lo da escola.
Ás vezes, erramos e somos crucificados por esse erro sem termos a chance de demonstrarmos que na verdade somos melhor que aquilo que aconteceu.
Muitos não dão a chance de nos redimirmos para consertar nossos erros.
Para mim é difícil de falar isso, mas também já tive vontade de não vir mais aqui na igreja. Já senti várias vezes olhares de medo, pessoas fugindo ou desviando para não dar de encontro com meu filho.
Isso, fazia muito mal para nós. Pensei diversas vezes em não vir mais para cá.
Mas, diferente de mim, os meus filhos sempre diziam que queriam vir para cá.
Então eles me deram a chance de ser uma pessoa melhor, me deu a chance de mudar meu pensamento em relação a essas pessoas.
Quantas chances vocês estão dando para as pessoas serem melhor do que hoje.
Hoje gostaria de pedir para todos vocês que se um dia eu errei com alguém, me dê mais uma chance de demostrar o contrário do que eu fiz.
Dê uma chance dos meus filhos também demostrarem que eles não são só o erro que eles cometeram com alguém daqui.
As chances que são dadas fazem toda diferença para as pessoas. Pois, essas chances podem salvar vidas de muitas pessoas.
Quantas chances vocês estão dando para as pessoas serem melhores?
Essas eram as minhas palavras que eu queria dividir com vocês hoje.
Muito obrigado pela atenção.
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Divulgação nos arredores da Igreja Guaimbê |