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Palestra do Fiel Ricardo Massayuki Ishii na cerimônia de Agosto de 2025 |
Uma vez tive que apresentar uma tese sobre algum ensinamentos da Tenrikyo. Na época queria falar algo relacionado a alegrar as pessoas. E lembro que um dos professores sugeriu falar sobre “Vida Plena de Alegria” ou “Trabalho”.
Achei interessante o tema “Trabalho” porque lembrei de uma frase da Oyassama que diz “働くというのは、はたはたの者を楽にするから、はたらくと言うのや”. Oyassama deve ter sido uma pessoa muito engraçada por sempre fazer trocadilhos em japonês. A frase traduzindo seria tipo “Se diz trabalho por que trabalhar é confortar os outros”.
Desde antigamente eu gosto de fazer as pessoas rirem com as coisas que falo e faço. Mas e quando estou desanimado, como faço para alegrar as pessoas? A partir dessa dúvida comecei a procurar respostas com relação ao tema que escolhi na época. Sigam a minha linha de raciocínio.
Eu vivo com tanta naturalidade o mundo que não percebo o fato da água cair do céu, de ter o calor do sol, de ter a quantidade ideal de oxigênio no ar ou dos frutos brotarem do chão. E o motivo de não precisar me preocupar com esse detalhe é porque Deus está trabalhando nessa parte. O mais interessante é que o trabalho de Deus não se limita só na natureza, mas também no corpo humano.
Falando em obviedade vocês conseguem ler isso?
TRÊS, 3, III, 三, A, 人
Esse kanji (人) significa Pessoa. E esse kanji (動) significa Movimentar. Juntando os dois ela forma o kanji Trabalho (働). Eu gosto de pensar que uma pessoa que consegue se mover é uma pessoa que consegue trabalhar. E o fato de movimentarmos o corpo é por existir o trabalho de Deus que usa as providências divinas como ferramenta. Como para manter os olhos lubrificados quando piscamos, a manter a temperatura corporal na medida quando suamos, a filtrar o ar que respiramos pelo nariz e vários outros.
Nós costumamos pensar que conseguimos fazer tudo sozinho, mas se não houver o trabalho de Deus, não teríamos o mundo funcionando normalmente, e consequentemente nós humanos estaríamos ferrados.
Esse espírito de cooperação também está em coisas simples do nosso dia a dia. Se eu tenho fome, eu posso cozinhar algo, mas se não tiver tempo para isso posso ir a um restaurante. O garçom anota meu pedido, passa para o cozinheiro, o cozinheiro pega os legumes que foi carregado pelos caminhoneiros, colhido pelos agricultores… Se voltarmos no cenário do restaurante estamos comendo com talheres produzido em fábrica com mão de obra dos operários, estamos sentados em cadeira que foi construído por marceneiros e estamos vestindo uma roupa costurada pelos costureiros. Cada coisa que usamos ou comemos carrega o esforço de muitos. Por isso, trabalhar é aliviar o peso da vida de alguém, seja de forma direta ou indireta. Os japoneses até brincam falando como se o kanji de 人 fossem 2 pessoas se apoiando.
Na tenrikyo não se diz que trabalhamos somente para nós mesmos, mas que trabalhamos pelo bem do outro. Como Oyassama disse: “Trabalhar é facilitar para o próximo”, fazer a boa para o outro não só com serviço profissional como espiritual. Com palavras de conforto como diz nos hinos sagrados: “Dizer uma palavra é hinokishin”
Ou com orações como ossazuke e otsutome, como diz no ofudessaki:
“Apressem diariamente o serviço, assim estarão livres de todo e qualquer infortúnio.” (10-19)”
“Quão grave e difícil seja a doença, todos serão salvos com dedicação única ao Serviço.” (10-20)
“Se Tsukihi aceitar ao menos o espírito sincero, assegurará toda e qualquer salvação.” (8-45)
Na Indicação Divina diz “Se houver sinceridade, haverá a verdade. Não sabem o que significa a verdade. A verdade é o fogo, água e o ar.”. Particularmente interpreto como “Se for com sinceridade não tem erro, a proteção é garantida”
Eu gosto de pensar que na frase “Poder trabalhar é poder aliviar os outros”, “Poder trabalhar é poder confortar os outros” a palavra alívio/ conforto é escrito com kanji de 楽, e com esse mesmo kanji podemos escrever 楽しい que significa alegria. Então, se a gente se esforça pra aliviar os outros, a alegria também nos alcança. Como diz a famigerada frase “Salvando os outros estará salvando a si mesmo”.
Acredito que o que mais atrapalha isso a fluir bem são as poeiras espirituais. Em específico a Mesquinhez e a Ambição.
“Mesquinhez é deixar de fazer algo espiritual ou físico mesmo podendo. É deixar de fazer pelas pessoas, pelo mundo ou pela fé. É fazer o trabalho fácil e deixar o difícil para os outros.”
“Ambição é querer ter mais do que os outros. Querer ter o máximo que conseguir e tramar em lucrar de forma exagerada”.
Trabalhar também é lucrar. Porém, mesmo existindo pessoas que gostem de trabalhar, elas não acumulam poeiras dependendo do seu espírito. No Episódios de Vida de Oyassama número 111 “Ser acordado de manhã” Oyassama diz “Trabalhar um pouco mais após ter trabalhado, não é ambição, é o verdadeiro trabalho.” E claro que isso não significa trabalhar até se esgotar, ou ignorar os próprios limites. Significa ter um espírito voluntário, que escolhe ajudar um pouco mais. Não por obrigação, mas por amor ao próximo, ou seja, o espírito de querer trabalhar um pouco mais pelo outro, é o verdadeiro trabalho onde a razão alcança o céu.
Na sociedade cada pessoa tem suas habilidades e dificuldades. Quando eu não posso fazer algo, alguém me ajuda. Quando o outro não pode, eu ajudo. Aí volto à minha dúvida inicial. Como animar as pessoas quando estou desanimado? Salvar os outros para salvar a si mesmo? Posso ME FORÇAR a ficar alegre para alegrar os outros, já que tenho saúde oferecida por Deus? Ou por ter a saúde oferecida por Deus que posso me ESFORÇAR em ficar alegre para alegrar os outros? Chega a ser parecido com o paradoxo de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? O que vem primeiro? A ajuda entre humanos que alegra Deus? Ou o trabalho de Deus em me dar força pra poder ajudar alguém?
Gosto de pensar que a vida plena de alegria e felicidade seja como uma camiseta. Se olharmos de perto vemos que as linhas se cruzam. Eu enxergo a ajuda mútua entre humanos na Terra como linhas horizontais, enquanto as virtudes que recebemos de Deus como linhas verticais. Talvez a verdadeira alegria da vida esteja nessa costura: a linha divina que nos sustenta por dentro, e a linha humana que se estende em cada um de nós. A vida plena de alegria não é um destino, é uma costura diária, feita a muitas mãos, tanto nossas quanto de Deus. Afinal, não se tece uma camiseta com linhas em um sentido só.
Minha palestra foi baseada numa tese que apresentei em 2019. Eu só falei coisas óbvias, mas às vezes o que é óbvio é justamente o que a gente mais esquece de colocar em prática. E sou eu dizendo, então não precisam acreditar se quiser. Obrigado por me ouvirem e assim finalizo minha palestra. Quem gostou bate 4 palmas.
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Praticando a divulgação da nossa doutrina |
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Comemorando o aniversário de 88 Anos do condutor Massaru Ishii |
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